Aperto de mãos entre Bolsonaro e Donald Trump
Reuters/Tom Brenner
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou o teor político por trás da tarifa de 50% imposta ao Brasil. Nesta quarta-feira (16), o republicano afirmou que taxou os produtos brasileiros por conta do que o país está fazendo com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
"[Taxamos] 50% em um caso, o Brasil, porque o que estão fazendo com o ex-presidente é uma desgraça", disse o republicano em entrevista a jornalistas na Casa Branca, nesta quarta.
"Eu conheço o ex-presidente e ele lutou muito pelo povo brasileiro, isso eu posso te dizer. Acredito que ele é um homem honesto e acredito que o que estão fazendo com ele é terrível", completou o presidente norte-americano.
Trump se refere ao julgamento do ex-presidente brasileiro no Supremo Tribunal Federal (STF) pela tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro, e ao pedido de condenação de Bolsonaro apresentado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
O republicano já havia sinalizado a motivação política na carta que enviou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na semana passada, quando informou a tarifa mínima que o Brasil precisaria pagar para fazer negócios com os EUA.
Diferentemente das demais cartas enviadas por Trump aos parceiros dos EUA, que focavam no déficit comercial do país ou a necessidade de controle das fronteiras para impedir a entrada do fentanil no território americano, a notificação enviada ao Brasil foi principalmente política.
Na carta, Trump afirmou que conheceu e tratou com Bolsonaro em seu outro mandato, indicando que a forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente é "uma vergonha internacional". "Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!", disse o republicano.
Trump ainda afirmou, sem provas, que sua decisão de aumentar a taxa sobre o país também foi tomada "devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos".
O republicano também indicou que o Brasil tem um déficit comercial com os norte-americanos, mas dados do Ministério do Desenvolvimento brasileiro e do próprio Departamento de Comércio dos Estados Unidos indicam que o país compra mais do que vende para os EUA há mais de 15 anos, desde 2009.
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'Brasil é um país soberano'
Após o anúncio, o presidente Lula afirmou que o Brasil é um país soberano e "não aceitará ser tutelado por ninguém".
O petista também chegou a indicar que o aumento unilateral de tarifas sobre exportações brasileiras seria respondido com base na Lei da Reciprocidade Econômica, mas depois, em entrevista ao Jornal Nacional, disse que o Brasil só utilizará a lei "quando necessário".
"O Brasil vai tentar, junto com outros países, fazer com que a OMC [Organização Mundial do Comércio] tome uma posição para saber quem é que está certo ou que está errado. A partir daí, se não houver solução, nós vamos entrar com a reciprocidade já a partir de 1º de agosto, quando ele começa a taxar o Brasil", disse o presidente à época.
A tensão comercial entre os dois países tem trazido preocupação a empresários e investidores brasileiros e norte-americanos.
Na terça-feira, a Câmara de Comércio dos EUA e a Câmara Americana de Comércio no Brasil (Amcham) divulgaram uma nota conjunta, na qual afirmaram que a taxa elevaria os custos para as famílias e afetarias as empresas norte-americanas.
Além disso, nesta semana, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, fez reuniões com representantes da Indústria e do Agronegócio para discutir alternativas ao tarifaço.
Já nesta quarta-feira, o governo Lula enviou uma nova carta a Trump. No documento, o governo manifestou "indignação" com a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, informou estar disposto a negociar e cobrou resposta a uma outra mensagem enviada em maio.
A nova carta é assinada por Alckmin e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
Membros do governo já indicaram, no entanto, que Trump ainda não deu sinais de que quer abrir uma negociação formal sobre a tarifa imposta ao Brasil.
Governo e representantes dos setores que mais exportam pros EUA se reúnem para discutir tarifaço
Produtores de tilápia de Mato Grosso do Sul estão preocupados com a tarifa extra de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A medida afeta diretamente o setor de piscicultura no estado, já que quase toda a carne do tilápia é enviada para os EUA.
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De acordo com a Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (FIEMS), 99,6% da tilápia produzida no estado é exportada para os Estados Unidos. O maior volume desde 2019, resultando em US$ 3,2 milhões em negociações. O Estado é o 5º maior produtor de tilápia do país, conforme o relatório do Anuário da Piscicultura 2024, da Peixe BR.
Para amenizar os prejuízos, exportadores tentam renegociar contratos com parceiros americanos. “Temos conversado com os nossos clientes para achar o melhor caminho para o menor impacto para a gente. Não sabemos se vamos ter que renegociar preços, ou se eles vão repassar alguma parte para o consumidor”, explicou o gerente de exportação de uma indústria do estado José Charl Noujaim.
A preocupação também afeta o setor pecuário do estado. A produção de carne destinada aos Estados Unidos em MS foram suspensas. A produção nacional das duas proteínas seguem normalizadas.
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Mercado interno pode se beneficiar
Noujaim destaca que, apesar de o consumidor brasileiro poder se beneficiar com preços mais baixos, o cenário preocupa a indústria, que pode acumular estoques.
“Para o consumidor nesse momento de certa forma vai ter vantagem, mas para o produtor vai afetar no volume de produção. A indústria vai ter que reprogramar toda a produção para ajustar a oferta. Na indústria, ao reduzir o preço se torna inviável porque o preço não cobre os custos de produção. Haverá aumento de estoque e pressão para se vender esses estoques e diminuir, pois todo estoque gera despesa adicional”, detalha.
No frigorífico onde trabalha Noujaim, cerca de 25% da produção mensal de tilápia é enviada para os Estados Unidos, o equivalente a 250 toneladas. O principal item exportado é o filé de tilápia resfriado, que é produzido em um dia e embarcado de avião no seguinte. Segundo ele, a operação exige investimentos altos em logística, que podem ser comprometidos caso as tarifas continuem.
“Imagina a gente ter que pagar armazenagem para manter esse produto e depois ainda ter que vender esse produto mais barato do que o nosso custo de produção. Acaba afetando a viabilidade da produção”, diz.
Apesar de os produtos serem congelados e com validade estendida, o gerente afirma que o principal impacto a curto prazo será o aumento da oferta no mercado interno, o que deve derrubar os preços no Brasil.
MS é o 5º maior produtor de tilápia do país
Exportadores de peixes em MS tentam negociar com americanos para reduzir impacto
Bello/ Reprodução
Mato Grosso do Sul é o 5º maior produtor de tilápia e o 8º na criação de peixes de cultivo do país, segundo o Anuário da Piscicultura 2024, divulgado pela associação Peixe BR. O uso de tecnologia, os incentivos do governo, a abertura de novos mercados e a qualificação de profissionais têm impulsionado o crescimento da piscicultura no Estado.
Segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mato Grosso do Sul subiu do 14º lugar em 2017 para a 10ª posição em 2022 na produção de peixes de cultivo. Nesse período, a participação do estado na produção nacional passou de 2,2% para 3,8%.
Entre janeiro e agosto de 2024, o abate de peixes em Mato Grosso do Sul chegou a 16,8 milhões de unidades, um aumento de quase 67% em relação ao mesmo período de 2023, quando foram abatidos 10,1 milhões.
Impacto no mercado da carne bovina
Os frigoríficos de Mato Grosso do Sul suspenderam a produção de carne destinada aos Estados Unidos, segundo o Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sincadems). A produção nacional segue normalizada.
Segundo o vice-presidente do sindicato, Alberto Sérgio Capucci, a paralisação apenas para o mercado norte-americano é uma medida logística para evitar o acúmulo de estoques de carne que não seriam vendidos. Com a nova taxação, as exportações para os EUA ficaram inviáveis financeiramente, se não houver negociação.
“A produção de carne foi paralisada apenas naqueles setores específicos para produção aos EUA. Se eu produzir e enviar carne hoje, a carga chegará aos EUA já com a tributação adicional. A taxação causou inviabilidade financeira para os produtores”, explicou Capucci.
Pelo menos quatro frigoríficos no estado interromperam a produção voltada ao mercado americano, segundo o sindicato. São eles:
JBS
Naturafrig
Minerva Foods
Agroindustrial Iguatemi
Apenas o frigorífico Naturafrig se pronunciou sobre a paralisação. Segundo a empresa, cerca de 5% da produção é destinada aos Estados Unidos. Os demais frigoríficos citados foram procurados pelo g1, mas não responderam até a última atualização desta reportagem.
A Associação Brasileira de Exportadores de Carne (Abiec) informou que houve uma redução significativa no fluxo de produção da carne voltada ao mercado norte-americano.
O secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, informou que os frigoríficos suspenderam os abates de animais destinados à produção de carne para os Estados Unidos. Além da paralisação, o acúmulo de carne estocada preocupa empresários e o governo.
"Têm um volume de carne estocada que deveria ir para o mercado americano, mas que não tem mais tempo de chegar até o dia 1º de agosto. Com isso, eles [frigoríficos] passam a ajustar suas escalas de produção para buscar a relocação desse produto. Temos, então, um aumento de estoque da carne que seria direcionada aos Estados Unidos".
Capucci explica que a suspensão das atividades neste momento é estratégica. Isso porque os embarques levam cerca de 30 dias para chegarem ao mercado americano. Como a nova tarifa começa a valer a partir de 1º de agosto, cargas enviadas agora já seriam taxadas com o adicional.
Chile e Egito como alternativas
O secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, afirmou que países como Chile e Egito são avaliados como potenciais novos destinos comerciais para a produção local.
Segundo Verruck, o redirecionamento da carne sul-mato-grossense para outros países exige um processo gradual e cuidadoso, que depende da competitividade dos preços. Enquanto isso, a produção nacional segue normalizada.
"O que a gente verifica é que podemos ter um excesso de oferta no mercado interno no curto prazo, tendo uma redução de preços na ponta e, consequentemente, uma redução ao produtor. É extremamente complexo esse momento", declarou ao g1.
Raio X da exportação
arte g1
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